Editorial: Arthur Maia e José Rocha continuarão como os "senhores" do alto sertão?

Com uma ou outra exceção, os deputados federais José Rocha e Arthur Maia tem dominado eleitoralmente a maioria dos municípios do chamado "Alto Sertão" da Bahia, região historicamente delimitada, em linhas gerais, por parte da bacia do Rio São Francisco e parcela da Chapada Diamantina, cujos principais centros urbanos seriam Guanambi, Brumado, Bom Jesus da Lapa e Caetité, dentre dezenas de pequenas e médias cidades. Situada no semiárido nordestino e enquadrada no intitulado polígono das secas, tal região concentra, ao contrário do que se imagina, imensas riquezas que deixam boquiabertos empresários estrangeiros.

Os referidos municípios, em maior ou menor grau, são dominados por grupos familiares que se alternam no poder há décadas, sendo que num momento tais elites se alinham ao governo federal, noutro ao governo estadual. Dentre os parlamentares que aparecem na área, de quatro em quatro anos para arrebatar dezenas de milhares de votos dos sertanejos, estão políticos oriundos dos grupos familiares locais, como é o caso de Luiz Augusto (deputado estadual sobrinho do ex-Governador Nilo Coelho), Ivana Bastos (filha do ex-deputado Fernando Bastos), Vitor Bonfim (filho do ex-deputado e atual conselheiro do Tribunal de Contas do Estado João Bonfim), sem contar que a família Oliveira que domina a política caetiteense teve seu deputado estadual em outras épocas, Marcio Oliveira, filho do ex-prefeito Dacio Oliveira. Nessa cota, podemos colocar Arthur Maia (também sobrinho de Nilo Coelho) e José Rocha, cujas origens remontam a região do Rio Corrente, cujo filho é prefeito de Coribe.

Como se vê, na política do alto sertão não há espaço para a "ralé". Políticos com sobrenomes pomposos ou oriundos de grupos familiares tradicionais controlam o cenário. Ousar desafiar essas oligarquias não é tarefa das mais simples ou médias. Não é por acaso, por exemplo, que o PT e o PCdoB, partidos de esquerda, quando perceberam que as dezenas de tentativas para chegar as prefeituras, com uma ou outra exceção, sempre passavam longe dos resultados esperados, preferiram se associar a um ou outro dos grupos majoritários, em troca de secretarias e outros quejandos. Espertamente, também era esta a orientação das direções partidárias localizadas em Salvador e dos Governos do PT desde o primeiro mandato de Jaques Wagner.

Nesse sentido, o alto sertão é território em disputa, tendo em vista suas diversas riquezas naturais, como a Serra Geral e a Serra dos Montes Altos, e dezenas de outras elevações celeiros de centenas de nascentes d'água; parte do território encravado na caatinga mas também no "gerais"; cujo potencial eólico e mineral tem movimento a economia regional nos último anos, deixando os políticos tradicionais em polvorosa; banhada em parte pelo maltratado mas ainda pujante Rio São Francisco e dezenas de afluentes; cuja população estaria em cerca de meio milhão de habitantes, sendo que a maioria destes são eleitores.

Sendo assim, essa região não é objeto de desejo dos referidos políticos por acaso. Em 2018 eles estarão de volta, aliás, já começam aparecer em outdoors, em reuniões e visitas a festividades, a abordagem a prefeitos e vereadores se intensifica. Arthur Maia, que tenta entregar a aposentadoria do povo para os ricos e José Rocha, o que votou recentemente pelo "Fica Temer", já circulam a região com milhões e milhões de reais. Ambos políticos de carreira com mais de 30 anos de estrada, senhores cujos projetos relevantes da lavra deles pouco ou nada se conhece. Mandatários cujo único ofício exercido ao longo da vida foi: ser político.

No alto sertão, precisamos dialogar para construir uma frente única contras as reformas do governo Temer, contra o sequestro da pauta progressista por políticos tradicionais, em defesa do nosso patrimônio identitário expresso em quilombos, no movimento camponês, no patrimônio histórico e arqueológico, nas águas, nas florestas e serras, na juventude e no povo pobre em geral. Não temos tempo para ter medo!

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