Na semana internacional do desaparecido político, João Leonardo pode ser encontrado na Bahia

A ONU declarou em 2011 o 30 de agosto como o Dia Internacional das Vítimas de Desaparecimentos Forçados. No Alto Sertão da Bahia, desde o dia 28 de agosto, a Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos iniciou os trabalhos para a exumação dos restos mortais de João Leonardo da Silva Rocha, morto e sepultado em Palmas de Monte Alto, cerca de 830 km de Salvador, em 04 de novembro de 1975.

A partir de uma audiência pública na noite da segunda-feira no auditório Jorge Amado do Colégio Municipal Eliza Teixeira Moura, a equipe técnica comandada pelo Dr. Samuel Ferreira explicou como se daria o procedimento e período de duração. A Dra. Eugenia Gonzaga, Procuradora da República e Presidente da Comissão Especial, reforçou a importância institucional e histórica do ato de resgate da memória e da verdade sobre a ditadura militar que subjugou o Brasil entre 1964 e 1985. Mais de 300 pessoas, sobretudo jovens, abarrotaram as dependências do auditório, cuja presença do poder público municipal, prefeito, vereadores e secretários, além de ativistas de direitos humanos, legitimou esta atividade como das mais importantes ocorridas no Estado da Bahia e no Brasil nos últimos anos. A presença do Ministério Público Federal se fez notar também pelo comparecimento do Procurador da República em Guanambi, Dr Carlos Vitor, cuja explanação apontou o papel da instituição no resgate do direito a memória. Mario Rocha Filho, irmão de João Leonardo, falou por cerca de cinco minutos sobre o papel dos heróis do cotidiano, aqueles e aquelas, brasileiros e brasileiras que, como João Leonardo, lutaram e lutam por um país livre, justo e sobreano.

Na terça-feira(29), o início do procedimento técnico propriamente dito começou as 8h da manhã com a presença de familiares de pessoas enterradas no perímetro assegurado como possível local de sepultamento de João Leonardo, ativistas de direitos humanos, autoridades locais, imprensa local e regional, advogados, etc., sob o forte calor da semiárido baiano. Com o auxílio da Prefeitura Municipal que disponibilizou pedreiros para auxiliar na remoção da terra e das estruturas de concreto que envolvem as sepulturas, além de guardas municipais dispostos para regular o acesso de centenas de pessoas que queriam acompanhar o desenrolar do processo. Por volta de 17h30 a equipe formada por peritos, antropólogos, arqueólogos, legistas encerrou os trabalhos do dia, sem revelar ainda publicamente quais foram as dificuldades encontradas e possíveis avanços, mas quem esteve presente sentiu o clima de otimismo no ambiente. Pessoas que tiveram a oportunidade de acompanhar o funeral de João Leonardo há quase 42 anos, enterrado sob o nome falso de "José Eduardo Costa Laurencio", apontado erradamente como pistoleiro e grileiro de terras, afirmam com muita confiança que o ex-preso político da ditadura está, sem sombra de dúvidas, sob aquela área.

A exumação de João Leonardo da Silva Rocha é a primeira operação deste tipo neste ano de 2017 no Brasil. Apesar de esforços empreendidos na região do Araguaia (Tocantins) e no Cemitério de Perus (São Paulo) serem de conhecimento amplo, é a primeira vez na história que um procedimento deste tipo ocorre no Estado da Bahia.

No final da tarde e início da noite de quarta(30), por volta das 18h, Dr. Samuel Ferreira informou a imprensa que existe a real possibilidade, após a escavação de uma área de mais de 5m², de encontrar algum resquício de algum corpo com características próximas as de João Leonardo da Silva Rocha. Entretanto, não há ainda maiores detalhes divulgados, tendo em vista a natureza técnica dos trabalhos desenvolvidos.

Os trabalhos técnicos da equipe de peritos continuam até a próxima sexta-feira(01) no cemitério municipal de Palmas de Monte Alto. Estão previstos ainda, até esse dia, visita ao local em que João Leonardo foi emboscado e assassinado, na Fazenda Caraíbas, além de levantamentos com pessoas que possivelmente podem colaborar com o esclarecimento da controvérsia que até o momento cerca a sua morte. 


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