Quase 42 anos depois, exumação de preso político da ditadura ocorrerá dia 28 em Palmas de Monte Alto
Após algumas incertezas sobre a data, já foi divulgada a
confirmação da exumação dos restos mortais do militante João Leonardo da Silva
Rocha, perseguido e morto pela ditadura militar em Palmas de Monte Alto em 4 de
novembro de 1975. Em Brasília, a Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos
Políticos bateu o martelo: será no dia 28 de agosto, no cemitério municipal da
cidade do alto sertão baiano, distante cerca de 800 km de Salvador.
Entenda o caso
João Leonardo da Silva Rocha, na época com 36 anos de idade,
advogado e militante de movimentos políticos que lutaram contra o regime de
opressão que dominou o Brasil a partir de 1964 através de um golpe, foi preso
em São Paulo em fins da década de 1960, barbaramente torturado e só foi solto
por ocasião da troca com o embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Charles
Elbrick, capturado em uma ação espetacular da guerrilha urbana em 1969,
episódio retratado no documentário “Hércules 56” e no filme “O que é isso,
companheiro?”. Naquela ocasião, João Leonardo foi banido no Brasil junto com
outros prisioneiros políticos, seguiu rumo ao México e depois aportou em Cuba.
Após um período na ilha de Fidel Castro, retornou clandestino ao Brasil com
destino ao sertão pernambucano, mais precisamente em Itapetim. Sabe-se que
depois de certo tempo, tendo feito amizades naquele local e, inclusive, fixado
residência na zona rural, partiu com destino a Guanambi e, dias depois, chegou
ao Povoado de Caraíbas, zona rural de Palmas de Monte Alto. Em uma fazenda
vizinha foi encontrado e morto por Delcker Rodrigues de Melo, então capitão da
PM, ocasião em que, em uma troca de tiros pouco esclarecida, foi também morto
um tenente e ferido um soldado.
Embora estivesse usando o nome de José Eduardo Lourenço
quando foi assassinado, a ditadura militar sabia que estava diante de João
Leonardo da Silva Rocha, conforme depreende-se do inquérito policial arquivado
no Fórum da cidade. Contudo, preferiu ignorar isto, afirmou para a população
que se tratava de um pistoleiro e ladrão de terras, o que ocasionou, segundo
consta, agressões ao seu cadáver inerte por parte de populares enraivecidos. Em
sepultura localizada no fundo do cemitério, destinada a indigentes e
desconhecidos, foi jogado o corpo de João Leonardo da Silva Rocha, baiano de
Salvador, cuja infância se deu em Amargosa, que trabalhou como bancário em
Alagoinhas, foi professor de latim em São Paulo, estudante de Direito da USP e
poeta aclamado por seus colegas. Um homem comum que entregou a sua vida na luta
pela democracia no Brasil, cuja história precisamos revelar agora, mais de 40
anos depois.
Em breve serão divulgadas maiores informações sobre essa
importante ação desencadeada por uma série de organizações públicas e privadas.
Sabe-se, até o momento, das presenças confirmadas de Mário Rocha, irmão de João
Leonardo que virá do Rio de Janeiro nesta ocasião, da Procuradora da República
Eugenia Augusta Gonzaga, Presidente da Comissão Especial, Ivan Seixas,
jornalista que foi peça importante na divulgação da localização de João
Leonardo na Bahia, em matéria especial veiculada em 2010 no Jornal da Record,
dentre outros especialistas em exumação e personalidades da luta pelos direitos
humanos.
Parabéns a Comissão pelo excelente e continuado trabalho. A luta pela verdade e memoria dos crimes da ditadura civil militar e PUNIÇÃO dos culpados precisa se completar!
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