A ditadura militar matou Anísio Teixeira?

Com esse questionamento em mente dezenas de pessoas acompanharam na tarde desta segunda(04) na "Casa Anísio Teixeira" em Caetité-BA uma exposição do Professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA) João Augusto de Lima Rocha intitulada: "A investigação sobre a morte do educador Anísio Teixeira". Nascido naquela cidade do Alto Sertão baiano em 1900, Anísio Teixeira é considerado um dos maiores educadores da história do Brasil e, quando morto, em março de 1971, certamente estava entre os 5 maiores educadores vivos. Sua morte naquela ocasião, segundo relatos oficiais, teria sido causada por uma queda no fosso do elevador de um prédio no Rio de Janeiro, versão questionada por observadores mais astutos. Entretanto, o país vivia o terror do Governo de Emilio Médici, cuja imprensa vivia sob forte censura e o objetivo central, menos de dez anos após o golpe de 1964 era combater implacavelmente a resistência armada e até mesmo a oposição pacífica.

Anísio Spínola Teixeira aos 71 anos, apesar de bastante ativo, não era nenhum guerrilheiro treinado em Cuba. Cristão praticante, liberal convicto e com forte admiração pelos Estados Unidos, onde estudou, nunca passou perto de uma reunião do Partido Comunista e sequer conheceu a doutrina marxista. Filho de uma oligarquia caetiteense, cujo pai, Deocleciano Pires Teixeira, ainda nos anos 20 teria recebido recursos para combater a Coluna Prestes que transitava à época pelo interior da Bahia, tampouco impressionava pelo vigor físico: menos de 1,60 de altura, magro, visão marcada pela imersão nos livros, Anísio Teixeira poderia amedrontar os militares por outros motivos: suas ideias no seio de uma sociedade arcaica e autoritária de tão avançadas só poderiam ser comunistas. Na certa, imaginou algum desvairado, aquele franzino sertanejo irrequieto, ex-reitor da Universidade de Brasília (UnB), autor de dezenas de obras sobre a educação, ainda fortemente estudadas nas universidades do país e do exterior, ao defender que a "educação não é privilégio", deveria ser algum agente secreto soviético.

A pergunta central que norteia os quase 30 anos de trabalho do Prof. João Augusto sobre o assunto poderia ser resumida na seguinte máxima: "o que morreu não foi Anísio mas sim a educação brasileira!". 

João Augusto de Lima Rocha apresenta revelações feitas a ele por, pelo menos, três intelectuais que conheceram bem Anísio Teixeira e o regime militar: Luis Viana Filho, Afranio Coutinho e Abgar Renault. Como se sabe, nenhum dos três eram simpatizantes dos ideais socialistas, sendo considerados entusiastas dos governos militares. Luiz Viana Filho, ex-governador da Bahia e também biógrafo, chegou a dizer numa entrevista particular a João Augusto no final dos anos 80 que sabia de fonte segura que Anísio Teixeira foi sequestrado e morto pelos militares. Desde então, o professor da Escola Politécnica da UFBA passou a estudar minuciosamente o fato, chegando a conclusões que apontam no seguinte sentido: se não foi assassinado pela ditadura, seguramente o educador foi executado antes de ter o seu corpo colocado no fosso daquele elevador do edifício do nº 48 da Rua Praia de Botafogo no Bairro do Flamengo, zona sul do Rio. 

Segundo apurou João Augusto, Anísio sequer chegou ao imóvel em que residia Aurelio Buarque de Holanda, que o receberia como parte de sua campanha rumo a Academia Brasileira de Letras. A versão oficial dava conta que o educador haveria errado o andar e, ao se desequilibrar, despencou dezenas de metros. Todavia, conforme levantamento de fotos conseguidas pela Comissão Nacional da Verdade em 2012, os óculos continuavam intactos junto a uma carteira, cuidadosamente posicionadas sob duas vigas posicionadas como área de amortecimento do elevador. Mais improvável ainda seria como o seu corpo teria teria passado ao lado dessas duas vigas, cujas laterais não passam de poucos centímetros da roldana e da parede. A hipótese mais provável é que ele teria sido assassinado fora dali e, partir de uma portinhola que dá acesso a base do elevador, foi colocado para que não se levantasse maiores suspeitas. Na época, jamais foram conhecidas as fotos que agora vem a público e nenhuma apuração consistente foi adiante, afirma o professor.

A continuidade do caso Anísio Teixeira segue como uma das diversas tarefas da Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos, que esteve no final de agosto Alto realizando a exumação de João Leonardo da Silva Rocha. 

Segundo o Professor João Augusto de Lima a versão oficial sobre a morte de um dos maiores educadores da história do Brasil é uma história passível de contestação em todos os sentidos.

Comentários