Precisamos de um partido clandestino


É uma constatação fática que os partidos de esquerda que pretensamente tem referência na classe trabalhadora há muito tempo abandonaram a construção do socialismo como horizonte estratégico. Em maior ou menor grau, a ocupação de espaços na democracia de tipo de representativa se tornou um fim em si mesmo, assumidamente para uns e disfarçadamente para outros. Isso não quer dizer, por óbvio, que a luta eleitoral deve ser abandonada.


A questão importante desse debate é: para que serve uma representação da classe trabalhadora na democracia de tipo representativa? Uma discussão desse porte precisa ser levada a cabo por uma organização socialista, sob pena de perdermos o momento eleitoral como espaço para testar a força das nossas idéias, identificar quadros, estabelecer mapeamento, fazer contatos, conhecer a cidade, fazer balanços, etc.

Um outro ponto de destaque é: como construir uma organização revolucionária em um cenário de descenso da luta de massas? Aqui é menos difícil apontar o que não se deve fazer do que o que fazer. Comecemos por aí.

Identificar a classe trabalhadora e o povo sobre como sujeitos centrais da transformação social. Dito isso, quem tem simpatia pela classe e quer lutar junto a classe precisa, necessariamente, se proletarizar. Diz o ditado popular que a "cabeça acompanha onde os pés pisam". Portanto, é preciso viver com o povo, junto ao povo e pelo povo.

Outro aspecto é jamais abandonar a teoria revolucionária. Marx, Lênin e Rosa Luxemburgo, dentre outros e outras, precisam ser a base do processo de reconhecimento do capitalismo como um modelo econômico desigual, predatório e excludente. Conhecer a história de resistência do nosso povo, sobretudo pobres, negros, índios e mulheres como parte da nossa identidade revolucionária.

Ademais, o dever militante da organização revolucionária é fazer a revolução. Nesse sentido, é preciso travar a luta encarniçada contra o capital e seus representantes, que são os responsáveis pelo regime de desemprego, fome, miséria e violência. O inimigo pode não ser facilmente identificável mas ele existe.  Há a necessidade de enfrentá-lo.

Tirando isso, resta a vida de pequeno burguês. Um radical no discurso, conservador nos costumes, passa férias na Europa, pós graduado ou em processo, tem pavor da revolução e gasta muito tempo em tentar desqualificá-la. Esse tipo é, infelizmente, majoritário em contextos não revolucionários. Não é um perfil novo e não é necessariamente desse tempo. Precisam ser superados porque é um tipo que causará sérios problemas no agravamento da conjuntura e no momento que não couber vacilação. Por isso os revolucionários e as revolucionárias precisam lutar com unhas e dentes para construir referência concreta junto as classes populares.

Em síntese, precisamos de um partido que possua uma fachada para disputar  eleições como tática. Um mandato aparelho. Isso precisar ficar claro, precisa ser dito. É preciso ter uma relação verdadeira com as massas. Em segundo lugar, precisamos de métodos para comunicação e finanças para a revolução social, mas isso é tema para um outro texto. Por fim, precisamos daqueles e daquelas que estarão disponíveis para viver como a maioria do povo, ou seja, na condição de proletários. Precisamos de um partido clandestino fortemente identificado com a maioria do povo e que possa aterrorizar o inimigo que é interno mas que também é internacional.

Comentários

  1. Excelente texto. Verdades plausíveis de um pensamento deputado. Instigador

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