Natureza e destruição: a culpa é de quem?

 


O sertão baiano passou, entre dezembro e janeiro, pelas mais fortes chuvas das últimas décadas. As imagens viralizaram nas redes sociais: pequenos córregos anteriormente secos completamente cheios; sangramento de barragens; ruas e bairros tomados pela água suja e pelo barro. 

Inegavelmente algumas imagens são muito belas: cachoeiras satisfazendo famílias inteiras; filas de carro para observar o espetáculo das águas depois de longos anos. De tudo isso, precisamos, contudo, tirar algumas lições.

Não há uma política ambiental séria implementada pelos governos, seja federal, estadual ou municipal. Pelo contrário, há uma verdadeira ojeriza à pauta ambiental. O que se pode dizer, todavia, é que fenômenos outrora naturais estão cada vez mais artificializados. Barragens sem manutenção há décadas muitas delas atendendo a interesses particulares; rios outrora livres e limpos transformados e espremidos em canais de esgoto. Há um desequilíbrio nítido e a força das águas dá lugar, poucos dias depois, a doenças, além de casas, lavouras e estradas destruídas. O que era para ser somente riqueza e bonança passa ser mais um dos inúmeros problemas.

Sem uma política séria e efetiva para acompanhamento e monitoramento da situação ambiental do sertão estaremos fadados ao apocalipse climático. Porque após as chuvas, antes saudadas como benção, ninguém mais sabe o que virá. Pode-se estar diante de uma nova pandemia, de uma seca sem precedentes, das ditas doenças de verão, enfim, tudo pode acontecer, inclusive, nada. O que sabemos é que continuaremos reféns dos mesmos políticos bandidos de sempre, enquanto não acordarmos.

É preciso estabelecer um programa permanente de recuperação de nascentes e revitalização das matas ciliares; reestruturar e democratizar as barragens; criar parques municipais e intermunicipais de preservação; combater os grandes empreendimentos imobiliários que entram em confronto direto com o Estatuto das Cidades; enfrentar o lobby dos grandes projetos eólicos e minerários; derrotar os políticos tradicionais que usam a política como balcão de negócios. 

É preciso reverenciar a beleza das águas em movimento mas não podemos esquecer da nossa missão: preservar é lutar pela vida. 

Que as chuvas tragam sabedoria e o nosso convencimento de que é cada vez mais necessária a ação.


Imagem: Agência Sertão

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